domingo, 14 de março de 2010

ARTIGO:Inclusão do aluno com deficiência visual: saber requerido

Elcie F. Salzano Masini

A cegueira, ao criar uma formação peculiar de personalidade, reanima novas fontes, muda as direções normais do funcionamento e, de uma forma criativa e orgânica, refaz e forma o psiquismo da pessoa. Portanto, a cegueira não é somente um defeito, uma debilidade, senão também em certo sentido, uma fonte de manifestação das capacidades, uma força, por estranho que seja, semelhante a um paradoxo.
Vygotsky
Em 1998, diretrizes educacionais referentes à matrícula da criança com deficiência em escolas regulares foram oficialmente decretadas por órgãos brasileiros federais e estaduais. As escolas passaram a seguir o estabelecido nesses documentos, contudo com uma postura ambígua: por um lado, aceitando as crianças com deficiência; por outro, mantendo a mesma estrutura, sem qualquer modificação organizacional e sem preparar professores e funcionários para lidarem com esses alunos inseridos no ensino comum. A ausência das providências necessárias à efetivação da inclusão fez surgir indagações sobre o saber requerido para que a inclusão escolar passe de uma proposta de documentos oficiais para ações efetivas na instituição escolar.A etimologia dos termos inclusão e saber evidenciam que o saber é condição indispensável à inclusão.Inclusão, do verbo incluir (do latim includere), significa conter em, compreender ou participar de. Inclusão escolar diz respeito ao ato de incluir e à condição de o aluno sentir-se contido na escola, participando e contribuindo com seu potencial para projetos e programações da instituição.Saber (do latim sapere) significa ter gosto, ter conhecimento, ciência, perceber, ter experiência prática. Engloba um conjunto de elementos constituintes do ser humano em seu sentir, compreender e agir.O saber necessário à escola, para que haja inclusão, ganha importância ao considerar-se que a escola: 1) é a única instituição imposta a todos e que por mais tempo mantém contato sistemático com a criança e o jovem; 2) é o local que a sociedade instituiu para o ensino/aprendizagem – processo pelo qual se desenvolvem habilidades, raciocínio, atitudes, valores, vontades, interesses, aspirações, integração, participação e realização.Assim, para que o aluno com deficiência visual sinta-se incluído nessa instituição, é necessário que ela o considere na sua individualidade e na sua cultura. Isso envolve conhecimento teórico sobre a constituição do ser humano na totalidade de seu ser – corpo, afetividade, pensamento, e também o seu contexto, com seus valores, hábitos e linguagem específicos. Tal saber não pode ocorrer a partir de informações fragmentadas de disciplinas isoladas. É indispensável a interdisciplinaridade – a integração das áreas do conhecimento em um equilíbrio entre ação e reflexão, para conhecer as possibilidades e vias perceptuais de que faz uso a pessoa que está no mundo sem um dos sentidos de distância: a visão. É necessária a interdisciplinaridade para investigar e oferecer as condições educacionais e recursos apropriados para o desenvolvimento e a aprendizagem daquele cuja percepção do que o cerca ocorre por meio dos sentidos da audição, tato e cinestesia, olfato e gustação.A inclusão escolar de alunos com deficiência visual requer, de cada educador, o saber sobre a especificidade de ação e contribuição que cabe à sua área de estudos em situações educacionais; discernimento sobre os próprios sentimentos e a concepção a respeito do aluno com deficiência visual e das possibilidades desse aluno, bem como, sobre as expectativas que tem a respeito dele e as conseqüentes exigências a serem feitas.

Elcie F. Salzano Masini é doutora em Psicologia pela PUC-SP e livre-docente em Educação Especial pela USP. É docente do programa de mestrado “Distúrbios do Desenvolvimento” e coordenadora de cursos de pós-gradução lato sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pesquisadora do CNPq, tem realizado investigações sobre o aprender e a inclusão de alunos com deficiências sensoriais. Tem inúmeras publicações sobre suas áreas de estudo.

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