sábado, 27 de março de 2010

Educação sexual na escola

Educação sexual na escola

Charles Rojtenberg

Atualmente vivemos tempos de grande preocupação com os jovens. São mais de 36.000 adolescentes entre 12 e 16 anos grávidas no Brasil. O maior problema que enfrentamos para evitar a gravidez de adolescentes é a falta de conscientização dos educadores (pais e escola) sobre a necessidade de promover a educação sexual preventiva em massa no meio educacional.

Quando falamos em "educação sexual", esbarramos com preconceitos terríveis por parte de muitas pessoas. Por total desconhecimento do assunto, pensam que, se ela for implantada na escola, seus filhos e alunos iniciarão a vida sexual precocemente.

O que muita gente não sabe é que, quando implantamos a educação sexual em uma escola, a tendência é o jovem sanar suas dúvidas e conseqüentemente não sair afoitamente à procura de qualquer experiência sexual para saber como é e tirar suas dúvidas.

A grande parte dos jovens recebe estímulos de seu grupo para realizar logo atos sexuais e, pior que isso, é informada por outros adolescentes um pouco mais velhos que também receberam péssimas orientações. Estes são, na sua grande maioria, supervalorizados pelo grupo por serem considerados "cabeças abertas".

Conversar de forma séria sobre assuntos sexuais em geral tende a baixar a ansiedade dos jovens, que naturalmente são muito curiosos e desejam viver suas experiências o mais rápido possível. Afinal, a adolescência é um período de descobertas.

Sem a orientação correta, a atitude dos adolescentes não poderia ser diferente da que predomina à sua volta. Para entender isso, basta ver esta regra básica da psicologia: todos seguimos modelos e, se os modelos que temos não são lá essas coisas, como poderíamos ser diferentes?

A conduta dos adolescentes é fácil de entender quando se está no meio de um grupo em que é muito vergonhoso ser virgem, em que a menina que ainda não teve sua primeira experiência sexual é considerada quadrada, antiga, problemática, mesmo que só tenha 14, 15 anos de idade. Num grupo em que os pais não receberam orientação sexual e não têm tempo para educar seus filhos, pois estão ocupados demais com seu trabalho e, quando chegam em casa, não querem lidar com aquele adolescente cheio de dúvidas e questionamentos sobre diversos assuntos, principalmente sobre sexo, ou então não sabem como proceder.

Nós, pais, educadores e diretores, temos de entender que estamos vivendo numa época de excesso de estímulo sexual e em que a mídia promove um certo incentivo para o ato sexual sem dar a mínima noção de segurança. Vivemos num tempo de confusão, pois estamos misturando a palavra liberdade sexual com libertinagem sexual. Não adianta esconder, não informar, fingir que o sexo não existe. Ele está aí para quem quiser experimentá-lo. Não cabe a mim nem a ninguém proibi-lo. Não adiantaria nada proibir, pois os adolescentes fariam sexo às escondidas. Não foi assim com quase todos nós?

Temos de, simplesmente, criar mecanismos para orientar melhor nossa equipe de trabalho e fazer com que as informações pertinentes à sexualidade sejam discutidas para que falar de sexo torne-se algo natural e o adolescente não tenha vergonha de sanar suas dúvidas ou de procurar seus pais, professores e educadores a fim de receber ajuda nessa fase tão complexa de sua vida e em que há descobertas de valores que vão determinar para todo o sempre uma vida de prazer ou de desprazer.

Atualmente, pesquisas revelam que mais de 50% das mulheres têm problemas sexuais, que começaram, no caso da maioria delas, na adolescência. Esses problemas, muitas vezes bastante graves, são geralmente decorrentes da total falta de apoio no período das descobertas sexuais.

A repressão sexual na sociedade, nas famílias, nos colégios é um dos fatores mais fortes da falta de prazer feminino e da disfunção erétil masculina na fase adulta. Se não começarmos agora a mudar a nossa filosofia educacional no que diz respeito à sexualidade, certamente teremos no futuro um mundo com adultos cheios de problemas.

Estamos muito avançados no que diz respeito à tecnologia, mas no que se refere à sexualidade ainda vivemos na Idade da Pedra. Não sabemos responder à grande maioria das perguntas sobre sexo, não sabemos o que fazer com nossos filhos quando entram na fase da descoberta da sexualidade e ainda assim observamos um grande "frisson" quando se promove uma palestra sobre sexo. É sinal de que algo não vai bem!

Charles Rojtenberg é psicólogo
www.sexologia.com.br

fonte:http://www.educacional.com.br/articulistas/outrosEducacao_artigo.asp?artigo=artigo0008

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